terça-feira, 3 de agosto de 2010

Para os professores discutirem.

Educação fundamental supervisionada
A minha curiosidade, segunda-feira passada, foi aguçada por uma entrevista de página inteira, num jornal sulista de grande circulação, concedida pelo engenheiro polonês Martin Carnoy, Mestre e PhD em Economia pela Universidade de Chicago. Ele é autor do recém lançado livro A Vantagem Acadêmica de Cuba, sob patrocínio da Fundação Lemann, uma instituição criada em 2002, financiadora de projetos relacionados ao ensino público que buscam acelerar o desenvolvimento social e econômico do Brasil.Na entrevista, Carnoy afirma categoricamente que há uma necessidade imperiosa de se supervisionar mais efetivamente o que está ocorrendo em sala de aula no Brasil, tanto nas escolas públicas quanto nas escolas particulares. E revela algumas realidades, quando se compara o nosso sistema com Cuba e Chile. Realidades que necessitam ser trabalhadas sem qualquer preconceito por dirigentes públicos, especialistas educacionais, professores e lideranças familiares e comunitárias, antes que sejamos definitivamente classificados como nação periférica dependente, apesar dos resultados notáveis de uns bem poucos em algumas atividades. Eis algumas ponderações do Carnoy:1. Não basta saber a matéria, é preciso saber como ensiná-la. 2. Em inúmeros municípios, os professores são contratados por indicação do secretário de educação e se dirigem às escolas de vez em quando. 3. Diante de um nível de repetição de 60%, os professores acham que as crianças simplesmente não conseguiram aprender, quando foram eles que não souberam ter competência para promover adequadamente a aprendizagem. 4. Há uma grande diferença entre pais cubanos e pais brasileiros. Os primeiros possuem uma renda baixa mas são altamente educados, diferenciando-se fortemente dos segundos. 5. Os alunos cubanos têm aulas das 8 às 12,30. Depois do almoço, na própria escola, voltam às bancas das 14 às 16,30. Depois desse horário, há uma sessão de TV de quarenta minutos, os tempos seguintes sendo destinados a artes e esportes, sempre sob a batuta do mesmo professor. 6. Os professores acompanham os mesmos alunos por quatro anos. 7. No Chile, as atividades dos professores em sala de aula são filmadas e avaliadas por docentes de outras escolas. 8. Professores podem ser bons nos testes de seleção e péssimos nas transmissão dos conhecimentos. 9. Em Cuba, a capacitação para os professores do ensino fundamental que não cursaram faculdade dura 18 meses. Além disso, aos melhores alunos do ensino médio são oferecidos 5 anos de universidade nos finais de semana. 10. Um dos problemas mais graves no Brasil é o absenteísmo docente. Que se agrava diante do absenteísmo autorizado. 11. Em Cuba, diretores, vice-diretores e supervisores assistem aulas. Nos primeiros três anos de docência, o professor tem suas atividades assistidas por um dirigente escolar pelo menos duas vezes por semana. 12. Mesmos os melhores docentes brasileiros são menos capacitados do que os de Taiwan. 13. Professores são bons em pedagogia, mas não no conhecimento a ser ensinado. 14. A melhor escola é a que tem professores com democracia. 15. No Brasil, um quarto do professorado muda de escola todo ano. 16. No Brasil, os sindicatos de professores preocupam-se com os direitos dos associados e estão certos em fazê-lo. Mas quem assumiria o papel de defender as crianças? O Ministério Público especializado poderia assumir essa tarefa, sem burocratismos desnecessários. Lamentavelmente, em nosso ensino fundamental há um crescente desânimo cívico, onde o gostar de ensinar fica muitíssimas vezes relegado a níveis mais que desprezíveis. Os movimentos docentes carecem de maior sintonia com a sociedade. Grosso modo, a docente não se direciona para um projeto de desenvolvimento nacional integrado, onde todos ganharão se a educação fundamental proporcionar um nível de qualidade compatível com os países que, há três/quatro décadas, eram “coitadinhos” iguais ao Brasil, hoje ostentando admirações mundiais. A leitura com debates do livro de Martin Caroy poderia servir de pano de fundo para uma ampla discussão sobre os amanhãs da nossa educação fundamental, hoje em estágio mediocremente fecundante, quando não bastante embromatório, onde o tratamento de tia ainda é sinônimo de abestalhamento comportamental em sala de aula. Professor, SIM! Tia, NÃO, já denunciava o saudoso Paulo Freire, tão pouco assimilado pelo magistério de mentirinha.
Fernando Antônio Gonçalves (Pesquisador social e professor da Universidade Federal de Pernambuco e Universidade de Pernambuco.)

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